20.4.08

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Recentemente tenho relido alguns resumos, textos, livros e reflexões sobre as reformas protestantes. Iniciadas no final do século XIV início do século XV, me chamaram especial atenção escritos de João Wycliff que atacou as irregularidades do clero, as superstições (relíquias, peregrinações, veneração dos santos), bem como o purgatório, as indulgências, o celibato clerical e as pretensões papais e defendia a Bíblia como norma de fé que todos devem ler e interpretar.

Outro teólogo que me chamou atenção foi João Hus (1372-1415), um sacerdote e professor da Universidade de Praga, na Boêmia, que foi influenciado pelos escritos de Wycliff.

Ele definia a igreja por uma vida semelhante à de Cristo, e não pelos sacramentos. Dizia que todos os eleitos são membros da igreja e que a cabeça da Igreja é Cristo, não o papa. Insistia na autoridade suprema das Escrituras. Hus foi condenado à fogueira pelo Concílio de Constança. Seus seguidores ficaram conhecidos como Irmãos Boêmios (1457) e foram muito perseguidos.

Os irmãos Boêmios foram os precursores dos Irmãos Morávios, outro grupo protestante cujas raízes são anteriores à Reforma do século 16.

Me chamou atenção ainda um outro indivíduo incluído entre os pré-reformadores: Jerônimo Savonarola (1452-1498), um frade dominicano de Florença, na Itália, que pregou contra a imoralidade na sociedade e na Igreja, inclusive no papado. Governou a cidade por algum tempo, mas finalmente foi excomungado e enforcado como herege.

Há ainda o grupo dos humanistas bíblicos, entre os principais deles podemos citar o italiano Lorenzo Valla (†1457), estudioso do Novo Testamento; o inglês John Colet (†1519), estudioso das epístolas paulinas; o alemão Johannes Reuchlin (†1522), notável hebraísta; o francês Lefèvre D’Étaples (†1536), tradutor do Novo Testamento; e o holandês Erasmo de Roterdã (1466-1536), , que publicou uma edição crítica do Novo Testamento grego com uma tradução latina, talvez a obra mais importante publicada no século 16, que serviu de base para as traduções de Lutero, Tyndale e Lefèvre e muito influenciou os reformadores protestantes. Esse retorno às Escrituras muito contribuiu para a Reforma do Século 16.

Já no século XVI eclode a reforma protestantes, poderia citar aqui João Calvino, Ulrico Zuínglio, os anabatistas, a reforma na Alemanha e em Genebra, citar ainda o teólogo que em minha opinião foi o mais importante dos teólogos da reforma, talvez porque alcançou maior notoriedade Martinho Lutero.

Bem, não vou me estender sobre os teólogos e a história da reforma, primeiro porque minha intenção é só nos trazer a lembrança os pensamentos e motivos que causaram a reforma protestante, e em segundo porque se optar em me estender mais acabaria escrevendo um livro sobre o tema, o que aliás existem muitos e de boa qualidade.

Primeiro vale lembrar que a história da Reforma nem sempre é agradável e inspiradora, esse período foi marcado por muita violência em nome da fé.

Por ser a religião muito importante para as pessoas, as paixões que desperta podem se tornar terrivelmente destrutivas. Os erros cometidos nessa área por diferentes grupos nos séculos 16 e 17 nos servem de advertência e de estímulo para a prática da caridade cristã e da tolerância, conforme o exemplo de Cristo. Podemos, sem abrir mão de nossas convicções, respeitar os que pensam diferente de nós.

Ao mesmo tempo, me impressiono com o heroísmo de tantos irmãos da época da Reforma, que por causa de sua fé enfrentaram muitas provações e até mesmo mortes cruéis.

No Brasil o evangelho não exige esse tipo de sacrifício da maioria dos cristãos, mas isso não significa que estamos livres de grandes desafios. São outras as maneiras pelas quais a nossa fé é testada no tempo presente. Viver de acordo com os princípios e os valores do Reino de Deus continua sendo uma prova difícil, mas necessária, para todos os cristãos.

Acredito que os reformadores não estavam buscando inovar, mas restaurar antigas verdades bíblicas que haviam sido esquecidas ou obscurecidas pelo tempo e pelas tradições humanas. Sua maior contribuição foi chamar a atenção das pessoas para a importância das Escrituras e seus grandes ensinos, especialmente no que diz respeito à salvação e à vida cristã.

Os reformadores nos mostraram que o critério da verdade não são os ensinos humanos, nem a experiência espiritual subjetiva, mas o Espírito Santo falando na Palavra e pela Palavra.

Assistindo a parte da programação televisiva gospel, ou mesmo a algumas ações evangélicas, tenho me perguntando se não há necessidade de uma nova reforma, ou melhor voltar a estabelecer antigas verdades Bíblicas esqueceidas.

Algumas das bases da reforma, SOLASCRIPTURA a centralidade da Bíblia; a Palavra de Deus; Graça; Fé; Sacerdócio Real; etc... Parece-me vêm sendo esquecidas.

Muitas igrejas evangélicas se quer possuem escola bíblica, outras tampouco sequer se preocupam em ensinar a Bíblia. A maioria dos cristãos hoje só tem contato com as escrituras na hora do culto e a interpretação se resume ao sermão proferido pelo pregador.

Onde se localiza no contexto das liturgias e ações nossas hoje a interpretação pessoal da Bíblia? A liberdade para podermos ler e estudar a palavra de Deus é algo que foi conquistado a duras penas por nossos irmãos do passado e que hoje não damos atenção.

As vezes parece-me que Marx estava certo a história se repete em círculos espirais no tempo.

Gostaria de propor a você amado leitor algumas reflexões: aliás peço que postem as “respostas” pois não as tenho...

É apenas impressão minha ou voltamos a pregar que a salvação não é para todos e a cobrar indulgências?

Temos exercido e exercitado o princípio do “livre exame” das Escrituras?

Quando há uma tensão ou uma divergência entre o ensino bíblico e a tradição eclesiástica, qual dos dois seguimos?

Nosso “pregadores” estão exercendo parcialidade na interpretação das Escrituras?

Nossas tradições estão obscurecendo a importância da Bíblia?

Talvez seja necessário uma nova reforma, uma nova revolução protestante, ou melhor é necessário fazermos um movimento de volta ás origens, da Igreja em que Cristo é o cabeça, da caridade e comunhão entre os irmãos, da Graça da Fé.

Wend - Na Jornada também