8.3.10

Deus é Inocente

Imagino o que pensam as pessoas que passam por catástrofes como os terremotos do Haiti e do Chile, ou as enchentes de São Paulo e Rio de Janeiro.

Nestas circunstancias nasce em nossos corações um sentimento de certa injustiça, será que aquelas pessoas mereciam isso? É justo que milhares de pessoas – com certeza entre elas muitos “justos” – percam toda família, tudo o que possuem?

Onde estava Deus? Porque Ele permite que isso aconteça? Perguntas que passam por minha mente por mais que eu tente fugir delas e com estas perguntas acabo que colocando Deus no banco dos réus.


Sinto-me incapaz de ajudar e começo a pensar se qualquer atitude que tomamos vale a pena, será que nossas orações alcançaram resultado no coração daqueles aflitos que perderam tudo? Ou mesmo a parca ajuda financeira e material que damos cobre a lacuna criada?


Porém tenho duas certezas que me apazigua a alma, me dão coragem para viver, orar e me animam à solidariedade, ainda que tímida e não poucas vezes insuficiente.


A primeira é que o Céu existe. Não sei como é. Não sei onde fica. Mas que existe, existe.


Este mundo não é a realidade definitiva. O presente estado das coisas não é a versão final da obra de Deus. Uma coisa é o mundo em que vivemos. Outra, o mundo em que viveremos eternamente.


Quanto as coisas que acontecem neste mundo e não deveriam acontecer, não acontecerão no mundo vindouro, Deus já se explicou. Deus se pronunciou em alto e bom som, há mais de dois mil anos, na cruz do Calvário, onde foi morto Jesus de Nazaré, o Cristo, unigênito de Deus.


A segunda certeza que tenho é que Deus é inocente, "Deus prova seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores". Quem duvida do amor de Deus deve olhar para o Calvário. No dia em que o sofrimento se agiganta e a visão do amor de Deus fica ofuscada pelas lágrimas da dor quase insuportável, a cruz do Calvário é o grito apaixonado de Deus.


O escritor John Stott escreve que na cruz de Cristo Deus justifica não apenas a humanidade, mas justifica a si mesmo. Na cruz de Cristo, Deus se levanta diante de todos os que o acusam de ser injusto, tirano, indiferente ao sofrimento e à dor humanas, e pronuncia a sentença de inocência sobre si mesmo. A cruz de Cristo é a prova irrefutável do amor de Deus. ( John Stott, A Cruz de Cristo – ed. Vida)


Na cruz de Cristo Deus é declarado inocente porque se solidariza com as vítimas do mal e da malignidade. Através da morte de Jesus Cristo, seu Filho, Deus afirma "O mal também me feriu", "O sofrimento chegou também à minha casa", "As lágrimas pelo padecimento injusto também rolam dos meus olhos", "Eu e as vítimas do mal e da malignidade somos um".


Aqueles que imaginam que Deus vive confortavelmente em sua “sala com ar condicionado” num gigantesco palácio no céu, alheio ao sofrimento humano na terra do sol, estão absolutamente enganados.


Deus tem o rosto marcado pelas lágrimas do sofrimento e da dor de cada um dos seus filhos por adoção e do seu unigênito.


Na cruz de Cristo Deus sofre conosco. Sofre por nós. Sofre em nosso lugar. Deus sabe o que é padecer. Seu Filho é homem de dores, ovelha muda,


Na cruz de Cristo Deus atravessou não apenas o vale da sombra da morte. Atravessou, e venceu, a própria morte.


Na Cruz do Calvário Deus declara: "Quando estiver sofrendo, não me conte entre os que lhe causam a dor".


Na Cruz, não é a mão de Deus que segura o martelo, é dEle a mão sob os cravos, é a mão de Deus que sangra.


Na Cruz Deus nos declara que não esta entre os que provocaram o sofrimento no Haiti, ou no Chile, ou em São Paulo, ou em qualquer lugar do mundo, Ele esta entre os corpos retorcidos debaixo dos escombros, as lágrimas de milhares de mães que choram por seus filhos também são lágrimas dEle.


Na cruz de Cristo Deus faz Sua escolha e anuncia sua disposição de amor absoluto: se alguém tem que morrer para que a justiça volte a brilhar no universo maculado pela culpa da raça humana, que viva a raça e que morra Eu.


Enfim, Deus é inocente.